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O filósofo e o dinheiro

Uma pessoa de bem coloca a mão no bolso e se pergunta: quanto dinheiro tenho? Um filósofo de nosso tempo ao colocar a mão no bolso se pergunta: como faço para conseguir dinheiro? Noutro tempo, porém, os filósofos pegavam seu dinheiro e se perguntavam: será mesmo que esse isto existe?





O dinheiro do filósofo


Numa velha cidade alemã distante da Alemanha, um pequeno grande homem escrevia sobre sua condição financeira. Melhor: perguntava-se como poderia afirmar a existência de certos cem táleres. Esquecendo-se de sua modesta infância e se esquecendo dos outros homens, punha-se a refletir sobre a diferença dos cem táleres reais daqueles que existiam apenas em sua cabeça.


Sabe-se que a realidade era para aquele homem apenas uma sombra, tocá-la não parecia ser um tarefa fácil. Cerrado em sua distante redoma, numa cidade cujo mar anunciava o infinito, percebia-se incapaz de falar sobre mundo em si. Éramos apenas nós sobre nós mesmos, o mundo era apenas uma possibilidade.


O Estado, não obstante, fazia da possibilidade um fato. Ele o pagava religiosamente por seus serviços à nação. De fato: “cem táleres reais nada mais continham que o simplesmente possível”. Porém, mesmo aquele pacato homem possuía certa ambição. Por mais que quisesse não via seus cem táleres reais crescerem junto de sua imaginação. O mundo além do pensamento não se movia um centímetro como resultado de seu filosofar.


O filósofo continua a pensar o mundo de diferentes maneiras, transformá-lo não estava em questão. Questionava-se sobre os limites do poder de sua mente enquanto seu agir se restringia a regulares caminhadas e a lançar sobre o papel o negro nanquim. A tinta expressava sua genialidade ao mesmo tempo que revelava sua pequenez. O grande homem era pequeno, era em si inútil.



A sorte do mundo


Por sorte existem outros. Da mina vem a prata que é purificada pelo trabalho de vários homens; graças ao esforço de tantos outros, o Estado trata de cunhá-las. Os burocratas entregavam ao velho filósofo sua preciosa pensão, e este a repassava aos serviçais a fim de que esses lhe garantissem o conforto necessário para o advento da "razão". O pão, o livro, a cadeira, o pedaço de papel e até o negro nanquim lhe apareciam como obras do acaso. O mundo que a materialidade corpórea dos objetos oculta assombrava o filósofo e o fazia crer que nada se pode dizer sobre o que são de fato.


O mundo fazedor de coisas também faz os filósofos. A criança mimada que teve tudo na mão dificilmente verá o valor das coisas, a criança de sorte que, de barriga cheia, foi colocada como parte do mundo age, relaciona, ama. Existiram, pois, aqueles que se sabiam parte do mundo, que procuraram transformá-lo, que se relacionavam conscientemente com os outros e que, em resumo, amavam.


O homem não é em si, tampouco a coisa o é – “o sentido da coisa em si”, certa vez foi dito, “é uma abstração muito simples”. O homem e o mundo estão em relação, não há um sem o outro. Não há homem sem mundo tampouco mundo sem homem. O ser em si daqueles tais cem táleres são, portanto, tão vazios quanto o mundo do filósofo.

Relação. Nada escapa a ela. Essa simples palavra põe de ponta cabeça os cem táleres do velho filósofo. A realidade desse dinheiro aponta para “uma rica totalidade de muitas determinações e relações”, para um mundo de homens vivos que se relacionam continuamente uns com os outros e com a natureza.


Antes, quando o filósofo só se punha como produto de si mesmo, uma pequena quantia de moedas de prata parecia ser a prova retumbante da existência de Deus. Hoje, quando o revolucionário substitui o filósofo e se põe a pensar sobre a sociedade do dinheiro, esses mesmos táleres reais passam a possuir tanta existência quanto as que possuem deuses imaginários.



Você que sabe quais são os pensadores aqui trabalhados? Conhece algo sobre o debate clássico da filosofia que está aqui indiretamente colocado? Comente!

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