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A política do contato

Ana Rita Nicoliello Lara Leite


Nos dias 15 a 19 de agosto, o 3º BH ImContato, festival de dança que acontece bianualmente em Belo Horizonte, reunirá no Espaço Odara dançarinos de todo o Brasil com um propósito comum: praticar o Contato Improvisação. Mas o que é essa dança e o que ela tem de tão especial?




O Contato Improvisação é uma prática que surgiu no início da década de 70, nos Estados Unidos, em um momento histórico em que os artistas de várias áreas questionavam as maneiras tradicionais de se produzir e fruir a arte. No universo da dança, era comum que os bailarinos tivessem que aprender a adequar seus corpos a determinados códigos de movimento e certos passos de dança para que pudessem seguir uma carreira profissional.


Quem não fosse virtuoso o suficiente para caber nessas caixinhas esteticamente

predeterminadas de movimentos ficava fora da cena, ou no fundo do palco. Além disso, não havia muito espaço para a liberdade criativa dos dançarinos, já que as companhias obedeciam a hierarquias rígidas. Isso dificultava a emergência de algo realmente novo no cenário da dança, faltava entende-la como uma verdadeira experimentação e investigação sobre o corpo assim como ele é, sem qualquer artifício ou virtuose. Ainda hoje, o pensamento antigo sobre a dança permanece. Muitas pessoas não apreciam a dança contemporânea, porque a acham estranha e pouco bonita. Mas o que esses artistas da década de 70 fizeram ao questionar as maneiras tradicionais de dançar foi justamente mudar o entendimento do que é a dança, abrindo, assim, um campo enorme de possibilidades para as gerações que vieram depois.


Nesse contexto, o Contato Improvisação surge como uma proposta democrática de prática investigativa sobre o corpo. Democrática porque pode ser praticado não só por bailarinos profissionais mas por qualquer pessoa que tenha interesse em expandir seus conhecimentos e sua sensibilidade corporal. Não há um conjunto de passos que devem ser aprendidos e bem executados, mas diversos exercícios de treinamento da percepção, da escuta e da consciência corporal.





Outra característica interessante do Contato Improvisação é que a investigação somática é sempre orientada pelo contato com outro corpo. É pelo tato que a dança se organiza, e não pela visão; é pela pele que se aprende a sensibilizar o próprio corpo a partir da escuta atenta em direção a outra subjetividade. A dança-contato treina a percepção para o outro, treina a lida e o respeito com sua diferença, treina a composição conjunta de um instante partilhado. Diferente das outras danças a dois, no Contato não há aquele que conduz – geralmente o homem – e aquele que é conduzido – geralmente a mulher. Não há função de comando e nem papel de gênero, a dança é construída sempre a partir de um diálogo silencioso entre os dançarinos, que precisam negociar o tempo todo seu desejo com o desejo do outro.


Há um efeito terapêutico inegável dessa prática: dançar contato, além de ser bom e prazeroso, ensina aquele que dança a perceber a si mesmo enquanto uma subjetividade sempre porosa ao outro, pronta a se transformar e a imergir no acontecimento presente da dança, sem espera e sem expectativa. E isso acaba produzindo, como consequência, um efeito social e político: se levarmos o Contato a sério, é possível aprender sobre modos de vida mais dialógicos, sem apelo à autoridade para tomada de decisões, nos quais a diferença é entendida como enriquecimento do presente e da história de cada um.


Ficou a fim de experimentar? Na página do evento no facebook há informações sobre os horários da oficina, valores e inscrições: https://www.facebook.com/events/1235780493221719/


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